Share |

Carta aberta do BE Penafiel em comemoração do 25 de Abril

Carta aberto do Bloco Penafiel ao povo penafidelense no 25 de Abril

O Bloco de Esquerda de Penafiel vem publicar uma carta aberta às e aos penafidelenses, assinalando a data de maior importância da nossa democracia - a da Revolução dos Cravos - e apontando os desafios que hoje vivemos enquanto comunidade.
Abaixo, segue a carta aberta.

 

Caras e caros penafidelenses,

 

Neste dia que marca 46 anos do 25 de Abril, vivemos momentos difíceis, inesperados, de consequências ainda imprevisíveis, que já pesam cada vez mais no dia-a-dia  de quem trabalha, de quem estuda, de quem trabalhou toda a vida.

 

Em primeiro lugar, é fundamental recordar e saudar todas aquelas e todos aqueles que dedicaram a sua vida ou contribuíram de alguma forma para a luta pela liberdade e a democracia contra o regime salazarista, contra a fome com que tanta gente sofria, contra a miséria generalizada, contra a repressão da PIDE que perseguia, torturava e matava, contra a guerra colonial que a tantas famílias tirou os filhos. A todas estas pessoas de luta devemos o direito de hoje nos organizarmos para defender as nossas ideias num ambiente plural característico de um regime democrático.

 

O que se tem demonstrado é que se há algo de que nunca devemos abdicar é do direito democrático, da liberdade que o 25 de Abril nos trouxe. Naquele dia, o que parecia impossível materializou-se, transformando a dor de um povo oprimido na esperança de um  futuro com direitos, de um futuro com boas condições de vida, para deixar às gerações seguintes - às filhas e filhos, às netas e netos - uma realidade melhor do que aquela com a qual haviam sofrido durante décadas às mãos do regime fascista de Salazar e Caetano. E com a transformação que esse dia lançou veio a Escola Pública livre da doutrinação fascista, o Serviço Nacional de Saúde universal, uma Segurança Social como rede de segurança para as diversas situações de dificuldades ou fases das vidas das pessoas, entre muitos outros serviços públicos e bens essenciais. Não esquecemos como ainda há pouco tempo, quando vivíamos sob a troika, foram violentamente atacados por quem culpava o povo pelos erros do sistema financeiro, mais preocupado em servir os lucros de investidores que a servir as necessidades das populações. Ainda hoje as regras europeias feitas à medida das grandes empresas se mantêm contrárias ao espírito de solidariedade que deveria ser central na construção europeia.

 

Assim, o desafio com que hoje nos confrontamos surgiu repentina e inesperadamente, porém a resposta ao mesmo depende das escolhas do poder democrático; depende das prioridades de quem governa nos vários níveis de representação política do país, do governo central ao Poder Local das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, e da União Europeia.

 

Para o Bloco de Esquerda de Penafiel, como para o Bloco de Esquerda a nível nacional e no plano europeu, este é um momento em que temos que definir o que queremos para o futuro; que Portugal e que Europa desejamos construir - se para as pessoas, se para os lucros das grandes empresas. O modelo com que vivemos até agora provou-se incapaz de resolver os grandes problemas estruturais que têm deixado muita gente para trás, desde as/os reformadas/os com pensões de miséria que não cobrem as despesas; às pessoas com deficiência que não encontram da parte das instituições a resposta que permitiria atingir a vida independente; às/aos estudantes ou técnicas/os cuja formação é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, mas que ficam por si ou cujas famílias ficam com o peso dos encargos financeiros que afastam tanta gente do direito a uma formação universitária ou técnico-profissional adequada; às/aos trabalhadoras/es que vivem na sombra da sociedade porque não lhes é reconhecido o direito ao trabalho; às/aos trabalhadoras/es que vivem na precariedade apesar de exercerem funções essenciais, sem contrato, a recibos verdes, sem direitos; às pessoas LGBT+ que sofrem diariamente com o preconceito de quem não reconhece o seu direito a viver de acordo com a sua identidade; às pessoas racializadas vítimas do preconceito racial que tantas vezes assume uma violência inqualificável; às mulheres que, depois de direitos conquistados com tanta luta, continuam a ser alvo do machismo estrutural que afecta a sociedade.

 

Podemos fazer melhor - é uma questão de vontade política! E se há altura que a exige é esta que vivemos. Se não sairmos disto com os valores de Abril reforçados, arriscamos a que a pobreza, a exclusão social, o ódio e a intolerância assumam uma dimensão que há muito não imaginávamos. Cumprir Abril, consolidar a Revolução dos Cravos: é o que faz falta!

 

25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!

 

Penafiel, 25 de Abril de 2020